Redução Interproximal em Dentes Posteriores: Considerações Clínicas, Riscos e Alternativas Terapêuticas.

A redução interproximal (RIP) é um procedimento amplamente utilizado na ortodontia contemporânea, especialmente em tratamentos com alinhadores estéticos. No entanto, sua aplicação em dentes posteriores exige cautela, devido a características morfológicas e funcionais específicas dessas regiões. O presente relato discute um caso em que as faces distais dos dentes 14 e 15 foram desgastadas com disco rotatório para a criação de espaço visando a distalização ortodôntica, porém o desgaste resultou em perda de integridade anatômica e contatos proximais inadequados, caracterizando iatrogenia. São analisados critérios clínicos, limites biológicos e implicações mecânicas da redução em posteriores, reforçando que sua indicação deve ser criteriosa e que, em muitos casos, alternativas de movimentação ortodôntica são preferíveis. Palavras-chave: Ortodontia; Redução interproximal; Contato proximal; Alinhadores; Iatrogenia; Biomecânica.

CASUÍSTICA

Alael Barreiro Fernandes de Paiva Lino

11/5/20252 min read

Introdução

A redução interproximal (RIP) é uma técnica utilizada para obter espaço ortodôntico, melhorar o perímetro arcada e favorecer o alinhamento dentário. Amplamente difundida em tratamentos com alinhadores, a RIP tornou-se uma alternativa frequente à exodontia ou expansão¹,².

Entretanto, a anatomia posterior apresenta particularidades — como contatos amplos, cúspides vestibulares e linguais funcionalmente estáveis e maior demanda de integridade estrutural — que tornam o desgaste nessa região mais sensível e potencialmente danoso quando comparado aos dentes anteriores³.

Descrição Clínica e Radiográfica

A radiografia interproximal apresentada demonstra perda significativa de esmalte nas faces distais dos dentes 14 e 15, resultante de desgaste mecânico realizado com disco abrasivo em baixa rotação.

Observa-se:

  • achatamento das superfícies proximais,

  • perda do ponto de contato natural, substituído por uma área extensa e plana,

  • possível redução da espessura remanescente de esmalte, aproximando-se da dentina,

  • risco aumentado de sensibilidade e retenção de biofilme, predispondo doença periodontal local⁴.

O desgaste foi executado com a finalidade de criar espaço para distalização durante tratamento com Invisalign®, porém a estratégia resultou em alteração anatômica indesejada e iatrogenia.

Discussão

A RIP em anteriores inferiores frequentemente é segura e previsível, pois:

  • o esmalte é mais uniforme e mais espesso em áreas estratégicas,

  • o contato é mais pontual e não tão extenso,

  • o impacto funcional é menor,

  • o risco periodontal é reduzido⁵.

Por outro lado, em posteriores, deve-se considerar:

Dente, espessura média de esmalte proximal. Risco clínico ao desgaste de Pré-molares e molares: 0,9–1,3 mm. Alto risco de exposição dentinária⁶

Além disso:

  • O contato proximal posterior é área-funcional, não apenas de contenção.

  • Alterações nessa área podem comprometer estabilidade oclusal e mastigatória.

  • Dentes posteriores suportam as maiores cargas funcionais da arcada.

Quando há necessidade de espaço para movimentações posteriores, opções preferíveis incluem:

  • distalização por ancoragem esquelética (mini-implantes),

  • expansão dentoalveolar controlada,

  • correção de inclinação radicular antes da movimentação,

  • avaliação criteriosa do plano oclusal e da relação molar⁷.

Conclusão

A redução interproximal é uma ferramenta valiosa, porém sua indicação deve obedecer a critérios anatômicos, funcionais e biomecânicos claros.
Nos dentes posteriores, o desgaste proximal pode levar a iatrogenias estruturais, alterações oclusais e prejuízo periodontal.

Reforça-se que:

  • RIP em anteriores pode ser benéfica e previsível quando bem indicada.

  • RIP em posteriores deve ser evitada, salvo em casos extremamente específicos, com planejamento minucioso e execução precisa.

Preservar estrutura dentária é preservar longevidade funcional.

Referências

  1. Zachrisson BU. Interproximal enamel reduction: indications, biological limits and long-term stability. World J Orthod. 2004;5(4):305–12.

  2. Sheridan JJ. Air-rotor stripping. J Clin Orthod. 1985;19(1):43–59.

  3. Rossouw PE, Tortorella A. Enamel reduction procedures in orthodontic treatment. J Can Dent Assoc.2003;69(6):378–83.

  4. Stroud JL, English J, Buschang PH. Enamel thickness of posterior teeth: implications for interproximal reduction. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1998;114(4):440–7.

  5. Zachrisson BU, Nyøygaard L, Mobarak K. Dental health in orthodontic patients treated with interproximal enamel reduction. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2007;131(2):162–9.

  6. Harris EF. Enamel thickness of human teeth. Arch Oral Biol. 1990;35(12):923–5.

  7. Papadopoulos MA. Nonextraction treatment strategies in orthodontics. Berlin: Springer; 2006.