Bruxismo

O mal odontológico do século

Alael Barreiro Fernandes de Paiva Lino

11/13/20254 min read

Placa Miorrelaxante no Bruxismo: Abordagem Multifatorial, Integrativa e Baseada em Evidências

Resumo

O bruxismo, entendido hoje como um comportamento motor regulado pelo sistema nervoso central, apresenta forte relação com fatores emocionais, níveis de estresse, qualidade do sono e hábitos parafuncionais. A placa miorrelaxante desempenha papel importante na proteção dentária e na modulação neuromuscular, mas não atua isoladamente sobre a etiologia do bruxismo. Este artigo discute a utilização da placa dentro de uma abordagem integrativa — combinando evidências clínicas, neurofisiologia do estresse, regulação autonômica e educação comportamental — demonstrando que a terapêutica mais eficaz é aquela que reconhece o paciente como um sistema completo, alinhado à filosofia de saúde integral.

Palavras-chave: Bruxismo; Placa miorrelaxante; Sono; Estresse; Parafunção; Odontologia integrativa.

Introdução

A compreensão moderna do bruxismo evoluiu consideravelmente na última década. Os consensos internacionais definem o bruxismo como um comportamento motor estereotipado, de origem central, podendo ocorrer durante o sono (bruxismo do sono) ou durante a vigília (bruxismo em vigília)¹⁻³.
Hoje se sabe que:

  • não é um distúrbio exclusivamente oclusal,

  • não é causado pelos dentes,

  • e não é solucionado apenas com placa.

O bruxismo é uma resposta neurobiológica modulada por estresse, ativação autonômica, microdespertares e fatores emocionais.
Nesse contexto, a placa miorrelaxante torna-se uma ferramenta clínica extremamente útil — porém integrada a um conjunto de mudanças comportamentais e regulatórias.

Descrição Clínica e Funcional da Placa Miorrelaxante

A placa miorrelaxante convencional, geralmente confeccionada em acrílico rígido e ajustada na arcada superior, apresenta diversos efeitos positivos:

1. Proteção das superfícies dentárias

Reduz desgaste, fraturas, microtrincas e preserva a longevidade estrutural.

2. Estabilização oclusal temporária

Oferece contatos simultâneos e distribuídos, reduzindo sobrecarga localizada.

3. Redução da hiperatividade muscular

O contato uniforme gera feedback neuromuscular que diminui a força de contração dos músculos elevadores da mandíbula⁴.

4.Modulação central do movimento mandibular

Ao alterar padrões sensoriais periféricos (propriocepção), a placa influencia a atividade dos núcleos motores trigeminais, reduzindo a intensidade do apertamento.

5. Alívio sintomático

Redução de dores musculares, cefaleias tensionais e desconforto nas ATMs.

Apesar disso, a placa não elimina o bruxismo, pois não atua diretamente na origem central do comportamento — apenas protege e modula.

A Abordagem Multifatorial: Para Além da Placa

1. O papel do estresse e da ativação autonômica

O bruxismo está associado ao aumento da atividade simpática, microdespertares e fragmentação do sono⁵.
Indivíduos com altos níveis de tensão psíquica exibem maior frequência de:

  • apertamento diurno,

  • hiperatividade temporomandibular,

  • dor facial,

  • microdespertares noturnos.

A placa ajuda — mas a regulação emocional é igualmente importante.

2. Comportamentos de vigília (bruxismo diurno)

Frequentemente negligenciado, o bruxismo em vigília é desencadeado por:

  • foco prolongado,

  • ansiedade,

  • postura mandibular inadequada (lábios selados, dentes separados).

Educação comportamental, apps de alerta e práticas de consciência corporal reduzem significativamente estes episódios⁶.

3. Sono: o terreno onde o bruxismo se manifesta

A qualidade do sono influencia diretamente a atividade muscular.

Maus hábitos como:

  • telas antes de dormir,

  • estímulos luminosos intensos,

  • cafeína tarde,

  • sono irregular,

  • estresse acumulado,

aumentam a chance de apertamento noturno.
A placa protege, mas não regula o sono.
Por isso, higiene do sono e rotinas circadianas são essenciais.

4. Corpo e mente integrados

Práticas como:

  • respiração diafragmática,

  • caminhadas matinais,

  • meditação,

  • terapia cognitivo-comportamental (TCC),

  • redução de estímulos nocivos,

diminuem a ativação autonômica e reduzem o bruxismo tanto diurno quanto noturno⁷.

Discussão

A placa miorrelaxante é um instrumento importantíssimo, porém não é o tratamento completo.
Ela deve ser entendida como:

  • um protetor dental,

  • um modulador muscular,

  • e um facilitador de estabilidade.

Porém, quando combinada com:

✔ reguladores do estresse,
✔ intervenções comportamentais,
✔ higiene do sono,
✔ consciência corporal,
✔ ajustes ambientais,

o paciente obtém melhor controle, menos dor e menor dano estrutural.

A visão fragmentada (“a placa resolve tudo”) perde força diante das evidências modernas.
A visão integrativa — a filosofia MetaVitae® — mostra exatamente o contrário:
saúde é um sistema, não um órgão isolado.

Conclusão

A placa miorrelaxante é fundamental para o manejo do bruxismo, mas sua real eficácia ocorre quando integrada a uma abordagem que considera:

  • o sistema nervoso central,

  • o estresse emocional,

  • a higiene do sono,

  • a postura mandibular,

  • a consciência comportamental.

Quando bem indicada e acompanhada de educação e práticas regulatórias, ela não apenas protege os dentes — mas devolve equilíbrio ao paciente, harmonizando corpo, mente e hábitos.

Referências

  1. Lobbezoo F, Ahlberg J, Raphael KG, et al. International consensus statements on bruxism. J Oral Rehabil.2018;45(11):837–844.

  2. Manfredini D, Winocur E, Guarda-Nardini L, Paesani D, Lobbezoo F. Epidemiology of bruxism in adults. J Orofac Pain. 2013;27(2):99–110.

  3. Carra MC, Huynh N, Lavigne GJ. Sleep bruxism: a comprehensive overview for clinicians. J Dent Sleep Med.2017;4(2):33–48.

  4. Okeson JP. Management of Temporomandibular Disorders and Occlusion. 8th ed. St. Louis: Mosby; 2020.

  5. Lavigne GJ, Khoury S, Abe S, Yamaguchi T, Raphael K. Bruxism physiology and pathology: an overview. J Orofac Pain. 2008;22(2):124–136.

  6. Svensson P, Jadidi F. Daytime bruxism and its relation to psychological factors. J Oral Rehabil. 2017;44(5):347–354.

  7. Smith MT, Wickwire EM, Grace EG, et al. Sleep disorders, medical conditions, and pain. Pain. 2014;155(7):1245–1251.